sexta-feira, 25 de julho de 2008

II Fórum de Formação.

No último dia 01 de julho, aconteceu o II Fórum de Formação. Promovido pela parceria entre o Curso de Formação da UNB e Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação (CFORM/EAPE), realizado no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Naquela manhã de terça-feira assistimos à palestra Heranças de Leitura, com a escritora teórica da literatura infantil e especialista em leitura, Maria Antonieta Antunes Cunha e seu filho, o escritor Léo Cunha. Ambos defenderam a importância do incentivo à leitura relatando situações por eles vivenciadas no meio familiar e escolar, mostrando como meios simples podem ser eficazes no incentivo às leituras prazerosas de nossas crianças.

Maria Antonieta, com um carisma invejável, relatou sobre a herança literária que recebeu de sua mãe, da escola e de sua experiência como escritora. Quando criança, Antonieta sofria de um problema nos olhos que a impedia de ler. Assim, sua mãe, com muita dedicação, lia para ela fábulas, contos de fadas, livros didáticos e tudo que fosse necessário para sua educação, com muito amor e arte, tornando esses momentos prazerosos e aumentando o afeto entre ambas. Na escola foi aluna de uma professora que lia para seus alunos sempre 10 minutos antes de acabarem as aulas. Lia com um prazer que contagiava os alunos. Também na escola foi muito importante o “caixote de livros”. Todo dia um aluno escolhia um livro para levar para casa e assim sempre devolvia sem precisar fazer nenhum controle dos livros emprestados. Com o tempo, foi curada do problema ocular e se tornou uma estudiosa da literatura infantil. Segundo Maria Antonieta, “hoje falta um trabalho mais adequado e mais amoroso com a literatura. O contato com a literatura pode fazer a diferença para se ter uma melhor crítica, uma melhor consciência...”.

Com sua experiência explicou que nem tudo que se escreve é literatura. Argumentou sobre a diferença da palavra e da palavra literária e sobre as estratégias que a escola e o professor devem adotar para incentivar o prazer de ler. Enfatizou que não se deve utilizar a literatura para ensinar, pois sua função seria para próprio prazer de ler, ou seja ensinar gramática ou costumes por meio da literatura é um erro pois a leitura deve enriquecer o imaginário, transmitir sua interpretação da realidade com uma visão de mundo particular.

A escritora reforçou sobre a herança da leitura em 2 pilares: um, da família, outro, do educador. Os pais são importantes enquanto formadores de leitores quando são vistos lendo por seus filhos, quando lêem para eles e quando oferecem livros para os pequenos. O educador deve ser, antes de tudo, um leitor. Depois, precisa criar oportunidades de encantamento pela leitura. A autora encerrou a fala dizendo que a literatura literária é capaz de suprir o imaginário, o coração e até o inconsciente do cidadão. Mesmo que na concepção escolar, esta literatura não sirva para “nada”, pode “apenas” aquecer a alma e o coração. Abrir a cabeça do leitor.

Léo Cunha, escritor e jornalista, destacou que sua primeira experiência com livros e leitura foi com seu avô. Ele o via sempre com um livro grosso e de capa azul nas mãos. Curioso, um dia perguntou a seu avô: - “O senhor nunca termina de ler este livro?” O avô respondeu que sim, mas que a leitura era tão prazerosa que ele recomeçava a ler sempre que chegava ao fim. O livro, lido e relido mais de 20 vezes pelo avô de Léo, foi Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Quando o avô faleceu, a avó queria que o livro fosse enterrado com o seu dono, mas Léo amante dos livros e admirador de seu avô, disse à avó que não queria nada de herança que não fosse o livro de seu avô. Maria Antonieta, também contribuiu muito para a afeição de Léo à literatura. Ela abriu a primeira livraria infanto-juvenil em Belo Horizonte onde o menino Léo, todos os dias assiduamente, devorava todo o acervo e ainda dava dicas aos clientes. Léo Cunha destacou a importância de ler para as crianças desde quando estão na barriga.

Mãe e filho nos falaram da importância da diversidade de obras, de gêneros, de linguagem e de estilos. Os palestrantes aconselharam que o professor ouse e seja criativo para provocar o gosto, o encantamento, o prazer pela leitura,. O professor deve mostrar paixão para provocar paixão.

Os palestrantes com certeza provocaram uma maior reflexão sobre o prazer de ler, mas como eu, muitos professores discordaram quando Antonieta enfatizou que não se deve utilizar a literatura para ensinar. O principal argumento é que, em sala de aula, pelo tempo que nós professores temos e o número de alunos que atendemos, devemos unir leitura e conhecimento para que possamos conseguir preparar esses leitores para a vida competitiva que terão que enfrentar fora da escola, aproveitando assim os meios e tempo que temos para tal. Sabemos que nossos alunos nem sempre encontram nos pais o exemplo da leitura e cabe a nós professores incentivarmos esses pais a ler e ensinar aos filhos a gostar de leitura por simples prazer, pois essa será mais eficaz se vier de berço, como percebemos nos relatos de Maria Antonieta e seu filho.

Muitas escolas da Rede Pública do Distrito Federal já realizam projetos de salas de leitura, nos quais incentivam a leitura como objeto de lazer e prazer. Mesmo assim não se obtém o resultado desejado para todos os alunos, devido não haver uma continuidade e incentivo em casa. Para conseguirmos o melhor de nossos alunos, devemos dividir e cobrar dos pais, comunidade e governo a responsabilidade com o futuro dessas crianças. Devemos sim ler para nossas crianças e criar oportunidades de leituras prazerosas, mas acima de tudo, devemos orientar os pais do importante papel que eles desempenham para o bom resultado escolar de seus filhos. É muito triste ver um educando ficar para trás, tentar ajudá-lo e não conseguir o resultado esperado. O professor, principalmente de 5ª a 8ª série, se sente impotente, pois a maioria sonha em atender melhor, em conhecer mais, em compartilhar e obter os melhores resultados de seus alunos, não de poucos, mas de todos, mesmo aqueles com problemas familiares. Isso adoece aquele professor preocupado com seu aluno, que busca qualidade para a educação e que espera que em todas salas de aula o número de educandos seja compatível com o atendimento individual adequado.

(Prof. Neide Marly de Souza Dutra Jerônymo)

Um comentário:

Elisete disse...

Oi Neide, você sumiu. Estou com saudades. Afinal, ainda está no curso, não é?
Beijos e mande notícias.
Elisete